domingo, 16 de dezembro de 2012


"A pessoa com doença mental chegou a um ponto em que se vê sem saída. Tudo pelo que trabalhou desapareceu no Nada.
Existem graus de frustração conforme as competências adquiridas antes do adoecimento.
O facto de estar grudado na TV (ou absorto sempre noutra coisa qualquer; Algo) não é, de certeza, uma atitude passiva. Ela rumina, rumina...
Aí pode-se e tem-se que intervir. Ajudar.
Ela está obsessivamente a procurar um caminho (não será?)... A dita TV é um elemento que está ali para disfarçar o Nada, já não estimula à muito.
A intervenção será bem acolhida pela pessoa se for explicado que vem no sentido de reencontrar as suas capacidades cognitivas, que não está demente, que as suas capacidades cognitivas estão lá. E que existe uma IDENTIDADE à espera de ser (re)descoberta. 
Para isso a pessoa tem de encaminhar-se para a envolvência que a circunda. Que é daí que tem que partir (feliz ou infelizmente). Pôr-se no caminho da Recuperação Pessoal.
Fundamental é ser ajudada a aceitar que falhou, a perdoar-se e a olhar em volta e ver que não é a única.
O pote de ouro no fim do arco-íris é que existe uma Identidade só sua. 
As actividades veem no sentido de ajudar a estruturar um caminho que, com o tempo, será percorrido só por si, se tornará individual, que irá reencontrar as responsabilidades sociais que tanto quer." 

André Soares

terça-feira, 19 de junho de 2012


Começo por dizer ou perguntar se, os meus pares quando alguém a nós se refere e inicia as suas frases com: o doente mental....; se aprova tais termos?
Pela experiência que tenho tanto eu como os meus pares estamos em completo desacordo com tal tratamento ou designação pois é do senso comum que tal designação não só é estigmatizante como encerra em si uma falácia!
Senão vejamos: A RNPDM (Rede Nacional de Pessoas com Experiência de Doença Mental) trata como podem verificar os seus membros como pessoas com experiência de doença mental. Não sei se a designação foi inocente ou involuntária, mas para mim não o é! Não o é porque se atentarmos com cuidado a esta designação podemos concluir que existem pessoas que experienciaram uma doença mental e que contudo esta foi com o tempo debelada ou foi transitória e por-conseguinte não podem já em sentido estrito serem consideradas pessoas com doença mental...isto pode acontecer mais frequentemente nos casos de depressão e até de neurose... mas sim é certo que noutros casos a doença é crónica...mesmo assim considero que mais vale tomar o todo pelas partes do que o contrário fazendo relevar o que de positivo ressalta da designação em discussão e que no fundo a todos aproveita!
Para mim trata-se de uma explicação que pode muito bem contribuir para uma certa "educação" pelo menos ao nível de certas esferas, sejam elas politicas ou sociais e que estou certo se bem aplicada com o tempo dará os seus devidos trunfos!

António João Verissímo

sexta-feira, 9 de março de 2012

Um escrito que me passou pelo "Espírito"

"Quem me dera abrir a janela.

A janela, do barco, que traz os escravos da vida...
Por um momento brilharia esse Raio de sol
Raio que cobre tudo o que é existente com um véu.
Este véu é opaco para quem não consegue ver
Mas, para aqueles que pensam na próxima vida!... Tão translúcido."

André Soares

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A imputabilidade...

Gostava de com este meu primeiro contributo abordar o tema da imputabilidade e correlacioná-lo de  forma directa com o conceito da responsabilidade.
É dado como certo que a pessoa com doença mental, pelo menos à luz do jurídico, não é uma pessoa 100% imputável relativamente a determinados actos da sua vida e em determinadas circunstâncias, ou seja a pessoa com doença mental é uma pessoa com, na maior parte dos casos, uma imputabilidade diminuída, que e portanto não se lhe podem imputar determinados actos. Aqui jogam dois conceitos, a questão da imputabilidade ou imputabilidade diminuída e a questão da responsabilidade. Ambos estão directamente correlacionados. Na medida da graduação da imputabilidade da pessoa avaliada pelo profissional de saúde competente varia na mesma razão a graduação da responsabilidade da pessoa. Quero com isto dizer que se a conclusão for a de que determinados actos são imputáveis a certa pessoa então ela será responsável ou melhor, responderá por eles caso contrário por eles já não será responsável. Trata-se de uma matéria que está quase por exclusivo nas mãos de um psiquiatra Forense encarregue de avaliar o paciente concluindo com a elaboração de um Parecer que será posteriormente analisado e interpretado por um Juiz que por sua vez ditará a medida punitiva a aplicar ao caso.
Para terminar só queria realçar que não vale a impressão popular de que o "maluquinho" nunca responde pelos seus actos e que portanto pode fazer o que quiser. Pois não é assim, o doente mental por si só não é e à partida totalmente inimputável! Como atrás referi o grau da sua imputabilidade tem que ser sempre avaliado caso a caso seguindo o processo já mencionado.
 
António João

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A vontade de uma vida laboral

O desejo de nos inserirmos no mercado de trabalho é forte em todos nós. Sei que todos (mesmo ao contrário, por falta de compreensão, nos julguem e digam, é a Preguiça) temos esse desejo de ser parte útil na sociedade. Sei também que existem fraquezas, nomeadamente na consistência com que iniciamos e, depois a sempre existente falta de motivação.
Penso que todos estamos a querer a cereja no bolo quando ainda não temos os ovos ou a farinha para o mesmo.

O que quero dizer é que seria bom fazermos uma verdadeira avaliação acerca de onde estamos no, pessoal, processo de recuperação. 
Sem mistificar, termos uma explicação (que seja só para mera sugestão hipnótica ou... o quer que seja), uma racionalização sobre o motivo da nossa doença. Porque acredito que as coisas não acontecem por mero acaso, ou por mero ADN. 
Mas não é esse o ponto (não é agora meu desejo abordar questões do fôro científico). Como disse, poderá funcionar como mero placebo mas se for para nos colocar mais funcionais, vale a pena.
Tenhamos então coragem para escavar na nossa Consciência.

Porque o desejo de inserirmo-nos no mercado de trabalho, poderá passar antes por uma formação, por um voluntariado ou mesmo por um (muito importante) adquirir competências.
E, eu vejo assim, a nossa Autonomia nos diferentes contextos alarga-se; podendo então desejarmos ir cada vez mais longe. Como já foi escrito no blog... "Pequenas conquistas".
Amigos. Não sejamos ansiosos. Temos uma vida pela frente!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"O que ainda podemos fazer." Tudo o resto...

Ter uma doença crónica mental tem a ver com algo que já não podemos fazer, ou pelo menos que não conseguimos fazer tão bem. Tudo isto pode trazer mais uma forma de sofrimento associada, lidar com a incapacidade e confrontá-la no dia-a-dia pode desgastar e afetar a auto-estima e criar uma espécie de relativização negativa face às outras pessoas.
Ver os aspetos positivos e não se deixar que o “sufoco negativista” se apodere é um desafio constante. Para alguém que vê a sua vida como um pintar de um quadro recursivamente escuro e letárgico, este é um estado que se induz muitas vezes independente do quadro específico da doença. O lidar com a condição que a vida impõe a longo prazo, pode trazer um mau sentimento associado, mas que pode ser combatido. É este o cerne da questão! Para isso devem ser mantidas as boas práticas mínimas, mas é preciso ver que as mesmas não podem ser realizadas totalmente, quando o meio segrega... Alguém ilustre uma vez disse: devemo-nos questionar sobre quem nos rodeia, quando estamos deprimidos, pois o problema pode não estar só em nós.
Inverter a perspetiva de análise, focar em tudo o resto que ainda se pode fazer, muitas vezes sem grandes custos, pode ser uma técnica que traga nova luz e uma abordagem construtiva. A questão está também de tanto precisarmos de proteger o nosso “espaço vital e pessoal” como também necessitarmos de “proximidade” ou mesmo de maior intimidade. A “segregação” existe sem dúvida, mas está também na pessoa cultivar a aproximação e o dar boas razões e motivos para que esta se dê, mantendo-se índices de socialização moderados pelo bom senso.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Cidadania com atitude

Há reivindicações no campo da saúde mental, mas... Quantos doentes mentais portugueses terão visões nítidas sobre as políticas sobre doença mental? E seus familiares e cuidadores?
Chegamos ao consenso que queremos ser ouvidos, queremos pôr fim ao estigma. Só nós e as pessoas associadas à nossa causa o podemos fazer e cada um pode ter uma participação especial.
Cabe a cada um de nós mostrar e confirmar o lado positivo da doença mental.
Nós lutamos por direitos, mas não se esqueçam que nada é impreterivelmente adquirido, por vezes há incapacidade de prever o futuro.
Por enquanto o exercício da cidadania ainda é um direito, porque não fazer um esforço de afirmação na sociedade e ser um cidadão participativo? Porque não termos gestos para com os outros e sermos os primeiros a dizer não ao egoísmo e ao egocentrismo social?
Nunca subestimem os meios e as possibilidades que hoje nos podem parecer banais! Hoje temos medicina, liberdade organizativa relativa, e podemos ter “voto” não só eleitoral, mas também um voto pessoal na sociedade.
Portugal atravessa maus momentos e não sabemos quando nova luz vislumbrará, uma afirmação anti-estigma pode ser o espírito contributivo para uma sociedade melhor, tudo é preciso e também o culto de atitude.


Miguel Pereira