quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"O que ainda podemos fazer." Tudo o resto...

Ter uma doença crónica mental tem a ver com algo que já não podemos fazer, ou pelo menos que não conseguimos fazer tão bem. Tudo isto pode trazer mais uma forma de sofrimento associada, lidar com a incapacidade e confrontá-la no dia-a-dia pode desgastar e afetar a auto-estima e criar uma espécie de relativização negativa face às outras pessoas.
Ver os aspetos positivos e não se deixar que o “sufoco negativista” se apodere é um desafio constante. Para alguém que vê a sua vida como um pintar de um quadro recursivamente escuro e letárgico, este é um estado que se induz muitas vezes independente do quadro específico da doença. O lidar com a condição que a vida impõe a longo prazo, pode trazer um mau sentimento associado, mas que pode ser combatido. É este o cerne da questão! Para isso devem ser mantidas as boas práticas mínimas, mas é preciso ver que as mesmas não podem ser realizadas totalmente, quando o meio segrega... Alguém ilustre uma vez disse: devemo-nos questionar sobre quem nos rodeia, quando estamos deprimidos, pois o problema pode não estar só em nós.
Inverter a perspetiva de análise, focar em tudo o resto que ainda se pode fazer, muitas vezes sem grandes custos, pode ser uma técnica que traga nova luz e uma abordagem construtiva. A questão está também de tanto precisarmos de proteger o nosso “espaço vital e pessoal” como também necessitarmos de “proximidade” ou mesmo de maior intimidade. A “segregação” existe sem dúvida, mas está também na pessoa cultivar a aproximação e o dar boas razões e motivos para que esta se dê, mantendo-se índices de socialização moderados pelo bom senso.

1 comentário:

  1. Texto exemplar Miguel.
    Uma clareza de escrita fantástica só possível a quem já sabe à muito de auto-análise. Parabéns pela maturidade e coragem, muita coragem para os bom senso no "convívio social".

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